segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

"SEREI OPOSIÇÃO PORQUE FUI ELEITO PARA ISSO" - DECLARAÇÃO DO DEP. FÁBIO DANTAS EM ENTREVISTA AO DIÁRIO DE NATAL...


"Serei oposição porque fui eleito para isso"
"Acho que vou ter muitos problemas, porque sou muito honesto e essa não é uma característica que combina com política". A frase é do deputado estadual Fábio Dantas (PHS), que já entra para a vida pública comprando briga. Filho do ex-deputado estadual Arlindo Dantas (PHS), o parlamentar novato diz que vai imprimir sua própria marca no Legislativo estadual. Protagonista do primeiro embate na Assembleia Legislativa - a eleição da Mesa Diretora da Casa - Fábio diz que vai procurar conviver bem com os demais colegas parlamentares, mas já deu o recado de que não abrirá mão de suas convicções. Fábio Dantas é formado em Direito, já foi secretário de Saúde do município de São José de Mipibu e passou seis anos na direção do Instituto Técnico Científico de Polícia (ITEP). Entre as bandeiras que pretende levantar em seu mandato, a geração de emprego e renda surge como a principal delas. Em entrevista ao Diário de Natal, o parlamentar falou da sua veia política, do rompimento com o PSB e com a ex-governadora Wilma de Faria (PSB), de quem foi aliado por muitos anos e da postura de oposição ao governo Rosalba Ciarlini (DEM), que pretende adotar na Casa.
Este é o seu primeiro mandato eletivo. Como foi o caminho trilhado até que você chegasse à Assembleia Legislativa?



A família da minha mãe tem tradição política no Alto Oeste, diferente da família do meu pai, que não é político, aliás, veio de uma família empresarial. Então, isso vem do sangue da família dela. Meu pai está político, mas não é uma pessoa que goste do convívio diário com esse universo complicado. Ele gostava de ser prefeito, porque podia fazer mais. Como deputado, havia uma limitação no atendimento ao povo. Em 1996, ele foi candidato a prefeito, em São José de Mipibu e ganhou a eleição. Na época, eu organizei a campanha dele. Em 2002, saí candidato a deputado federal, preparei a campanha durante um ano e meio. Eu era do PDT e tinha um pré-compromisso com o PT, de me unir com Fátima Bezerra naquela chapa que a elegeu deputada. Eu poderia ter sido eleito, porque faltaram 10 mil votos para fazer um federal e Fátima obteve 10 mil. Nós do PDT tivemos 110 mil. Então, eu abdiquei da minha candidatura, porque a legenda não ia atingir o coeficiente e lançamos meu irmão pelo PP. Em 2006 Arlindo estava no lugar certo na hora certa. Estava no PHS, um partido pequeno e ele se elegeu deputado estadual. Também tentei ser candidato a vereador em Natal. Mas minha prima saiu candidata em 2008 - Júlia Arruda -, e meu irmão era candidato no interior. Fizemos uma coligação e os partidos não aceitaram a minha candidatura. Então abri mão e o PHS elegeu Maurício Gurgel.
Cercado de tantos políticos, você pretende se inspirar em alguém ou vai imprimir sua própria marca no mandato de deputado?
Quero imprimir minha marca. Em 1992 eu trabalhei no Judiciário e depois trabalhei na Prefeitura, em 1997. Tinha uma vocação maior para o Judiciário e cheguei a crer que aquele seria o meu ambiente, minha vida, inclusive me formei em Direito. Mas em 1996 fui secretário de Saúde, construí uma história, desenvolvi trabalhos pioneiros em São José. Depois, me lancei candidato, em seguida fui para a direção do ITEP e, com isso, fui ganhando experiência. Aqui (Assembleia) é um mundo novo, mas eu quero fazer algo diferente, quero ter orgulho de ter sido deputado estadual. As pessoas falam mal de políticos, os próprios políticos sentem vergonha de dizer o que são. Eu quero poder dizer, daqui a quatro anos, que eu colaborei para o Rio Grande do Norte. Pelo pouco que eu conheço o RN, 90% dos políticos são bons. A gente só vê a imagem ruim.
Que bandeiras você pretende erguer durante o seu mandato? Quais serão as prioridades?


Geração de emprego e renda, saúde. Mas eu pretendo fazer um mandato amplo, porque eu aprendi muito em orçamento, conheço muito a saúde lá no pé, de onde realmente vem o problema, nos municípios. Trabalhei para salvar vidas e também para resolver os problemas depois da morte, no ITEP, onde passei seis anos. Sobre a geração de emprego e renda, acho que qualificação profissional deve ser trabalhada. Inclusive estou tentando marcar quatro audiências públicas, logo agora para o começo. Uma sobre cerâmica, outras sobre os transportes alternativos clandestinos - que eu considero comunitários - delegados que passaram nos concursos, e uma audiência do ITEP, com relação ao estatuto deles e à greve. Quero focar meu mandato na geração de emprego e renda, no desenvolvimento do estado. Na área de saúde, pretendo trabalhar muito. Em São José, quando entrei para ser secretário, tínhamos três médicos e eu deixei a cidade com 106 médicos. Não só a medicina curativa, mas a preventiva. O grande gargalo da saúde hoje é urgência e emergência. Outra coisa é a questão da Copa. Eu andei, durante a campanha, ouvindo muita gente e uma das coisas que me chamou atenção foi uma senhora de 45 anos, que perguntou o que eu ia fazer pelos jovens de 45 anos. Sei que é inconstitucional a Assembleia fazer isso, mas eu quero provocar a criação de um projeto de lei que incentive as empresas a gerarem emprego para quem está nessa faixa de 45 a 60 anos. Porque essa fatia é a que mais sofre, pois não teve qualificação. É muito volátil, porque é mais fácil tirar um de 40 anos e colocar um de 20. Só vai regular o mercado se for dado um incentivo às empresas, por exemplo, tirar 1% do ICMS para as empresas que empregarem 20% do seu parque industrial com pessoas nessa faixa etária. E então, pega o jovem de 16 a 35 e o qualifica melhor para a Copa do Mundo.
Como será sua atuação na AL? Recentemente você declarou que havia rompido com a bancada do PSB na Casa e com a ex-governadora Wilmaatuação na AL? Recentemente você declarou que havia rompido com a bancada do PSB na Casa e com a ex-governadora Wilma de Faria. Isso significa uma aproximação com o governo do estado?

Não. Eu serei oposição, porque fui eleito para isso. Embora nós façamos parte de um partido que se colocou independente durante a campanha. Mas eu tinha afinidades com o governo passado. Acho que foi um governo de avanços, tanto o de Wilma quanto o de Iberê. Mas quem conta a história é quem vence. Ninguém que perde conta história. Quem ganhou a Segunda Guerra contou a sua história. Eu não estava lá para saber, mas sei o que a história conta. Porém, hoje é diferente, nós temos uma geração com muita informação e as pessoas conseguem contar, rapidamente, a história real. E espero que a história real apareça. Com relação a Wilma de Faria, eu tenho o maior carinho por ela, pois foi uma sobrevivente esses anos todos. Esteve na política sem ter um meio de comunicação. Todos os políticos que detêm poder no estado, com exceção da governadora, possuem um canal de televisão, uma rádio, um jornal. Wilma nunca teve. Então acho que ela trouxe um governo de avanços, e que teve problemas, como todos. Sobre o PSB e a bancada, nesse processo eleitoral nós tivemos uma divergência, que foi o tratamento dado ao deputado Tomba. Que eu acho que é um fato superado. Fiquei magoado por isso. Mas acho que é uma coisa pequena com relação ao papel do partido. No entanto, gratidão é uma coisa que todo mundo tem que saber guardar e eu sou grato ao governo do PSB pelo que fez e também pelo espaço político dado ao nosso grupo. Mas isso não quer dizer que, amanhã, eu não possa divergir, como divergi sobre a eleição da Mesa Diretora.
Como você acha que a governadora Rosalba Ciarlini vai compor sua bancada na Casa?

Vai ser muito difícil, viu? Por exemplo, na Câmara Municipal terá uma bancada independente, aí aqui também terá. Digamos que o governo quer compor com essa bancada. Como será isso? Acho que vai ser muito difícil, pois os deputados estão todos insatisfeitos. Não posso falar por eles, mas o que sentimento que se vê na Casa é todo mundo reclamando. Podem até não reclamar lá fora, mas aqui estão. É natural que no início de um governo, não tenha essa necessidade de ter esse apoio parlamentar na Casa. O governo só vai precisar disso quando tiver problema. Acho que nos primeiros 300 dias, ela não terá problema algum, pois os projetos que são encaminhados são necessários à sociedade, têm um cunho de política muito pequeno. Começa a ter mais problemas quando se contraria interesses. Então creio que ela não vai ter essa necessidade de compor a bancada legislativa, mas vai ter problema na hora de compor, pois,a meu ver, ela precisa resolver primeiro as coisas da sua casa para depois resolver o problema dos outros.
A eleição da Mesa Diretora foi um tanto conflituosa e a impressão é que ficou um clima desagradável entre os próprios deputados. Como você acha que ficará essa relação entre os parlamentares?



Acho que esse assunto está mais ou menos superado. Os antigos, de um modo geral, principalmente aqueles mais resistentes à mudança, no dia da eleição fizeram uma chapa única. Os novatos sempre tiveram um posicionamento no sentido de caminhar juntos, pelo menos eu, Tomba, Dibson (Nasser) e George (Soares). No meio desse processo, os novatos foram excluídos da chapa consensual, que contemplou, inclusive, o candidato Raimundo Fernandes que era o nosso candidato a primeiro secretário. Numa Casa em que todos os deputados votam num candidato a presidente, o mínimo que se pode ser feito é dividir, igualmente, as posições da Mesa, enfim. Isso é uma Casa política e a gente não pode dizer o contrário. Ela precisa de umadivisão de poder igualitária. Mas, chegou no dia, houve aquele problema, não incluíram na chapa, nós discordamos, pois éramos quatro candidatos na mesa. Eu era o último dos candidatos e esperávamos chegar pelo menos à 4º secretaria, pois era pelo menos um novato na chapa. E não foi o que aconteceu. Tomba, Dibson e George desistiram da candidatura e eu continuei, pois acreditei que poderia dar minha colaboração ao processo eleitoral, dizendo que discordava daquilo ali. E a gente obteve 11 votos, perdemos a eleição, embora o regimento da Casa estabeleça que é preciso 13 votos para vencer. Perdemos, primeiro porque não fomos colocados na chapa de consenso e segundo, porque o próprio plenário não deu maioria para o que nós precisávamos para ganhar. Acho que a primeira eleição será ratificada no dia 16.
Você se mostra uma pessoa opiniosa e contestadora. Como será seu comportamento na Casa?


Eu sou muito sensato nas minhas coisas, mas eu só costumo falar aquilo que conheço. Eu dou minha opinião em alguns fatos, mas procuro conhecer o assunto, naquilo que eu tenho convicção de que estou falando a verdade. Eu não vou abrir mão disso. Mas espero conviver bem com todos, e que eles tenham a imagem que eu sou um colega correto e principalmente e que sigo minhas convicções. Vez por outra, nessa vida parlamentar, a gente precisa saber guardar nossas convicções, aliás, saber a hora certa de falar. A gente já aprendeu a primeira lição, no primeiro dia aqui. Já foi uma aula em que nós pudemos aprender um pouco, tanto é que não saímos totalmente derrotados. E acreditamos que aquilo foi desnecessário, que poderia ter sido evitado. Foi denominada chapa de consenso, mas eu entendo que isso não é adesão, é um consenso e pressupõe-se que ouve todas as partes. O deputado Fernando Mineiro foi muito veemente nesse aspecto, quando declarou que não foi ouvido nenhuma vez. Nós também não. Nós estávamos como Raimundo Fernandes desde dezembro. O deputado Poti Junior é um primeiro secretário que merece o nosso respeito, mas já tínhamos nosso comprometido com Raimundo. Nada nos impedia de votar em Poti, apenas nosso compromisso. No final, o PMN, o PSB, o DEM e o PMDB fecharam a chapa e esqueceram de nos incluir. Mas foi válido.

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